RD_Notícias

RD_Notícias
Para o amor só roma pode esconder.

Um Blog jornal

domingo, 17 de janeiro de 2010

(música) Nova biografia do Nirvana traz 600 páginas sobre a banda de Kurt Cobain



Foto: New York Times
Krist Novoselic, Kurt Cobain e Dave Grohl, integrantes do Nirvana (Foto: New York Times)
Até receber a tarefa de fazer a crítica do livro "Nirvana" de Everett True, fazia alguns anos que eu não escutava muito a banda. Nesse aspecto, imagino que eu seja como a maioria das pessoas que como eu tinham 20 e poucos anos quando o vocalista, compositor e guitarrista do Nirvana, Kurt Cobain, morreu em abril de 1994, cerca de dois anos e meio após o lançamento de "Nevermind".

Houve tanto sensacionalismo – palavra inevitável – em torno do Nirvana e o seu fim que posteriormente a música parecia, de alguma forma, encoberta pela publicidade que o fato gerou. Tornou-se algo quase constrangedor escutar no quarto a voz estranhamente sedutora e sarcástica de Cobain, quando jornalistas a definiram como a voz de nossa geração.

Como escutar hinos do início dos anos 1990 durante o final da década 2000? Qual a sensação de ouvir "Smells like teen spirit" quando você tem 30 e tantos anos, algo que Kurt Cobain, morto aos 27, obviamente jamais saberá?


Outra importante obra da sessão nirvanologia é o livro "Mais pesado que o céu" [2001, lançado no Brasil pela editora Globo], de autoria de Charles R. Cross, uma biografia de Cobain criteriosa e bem escrita, porém frustrada pela complacência do autor com a versão de Courtney Love sobre os eventos e uma reconstrução fictícia das últimas horas de Cobain.Talvez você espere que True se envolva nessas questões e avalie de modo convincente a música e o legado da banda. Afinal de contas, este não é o primeiro livro a contar a história do surgimento do Nirvana "das entranhas de uma tacanha cidade madeireira chamada Aberdeen, WA", como Cobain a descreve em um texto que acompanhava o primeiro single da então desconhecida banda, e do feito do grupo (citando o mesmo documento de falsa pompa) levando-o ao "sucesso, fama e subseqüentes milhões".

O livro de Michael Azerrad "Come as you are", publicado [só no exterior] em 1993 e escrito em cooperação com o Nirvana, apresenta impressões íntimas de Cobain e seus companheiros de banda, Dave Grohl e Krist Novoselic, ainda que corte os bastidores e minimize o problema com heroína de Cobain.


True poderia ter desenvolvido sua obra a partir do trabalho de seus predecessores e destilado informações reveladoras de sua própria experiência como o jornalista que talvez tenha passado mais tempo com a banda.

Contudo, para uma obra anunciada como a biografia definitiva da banda, "Nirvana" é uma produção estranhamente periférica e incompleta. Os golpes fortes, constantes e vibrantes da bateria de Grohl e os riffs provocantes e insinuantes de Novoselic eram tão importantes para o som do Nirvana quanto os "gritos sensacionais" de Cobain, como definiu o primeiro produtor da banda.

No entanto, nem Grohl nem Novoselic concordaram em conceder entrevistas, e True havia rompido com sua antiga amiga Courtney Love, atriz, cantora e celebridade provocadora com quem Cobain se casou em 1992.


Foto: Divulgação
"Olá, somos fenômenos de vendagem de rock de um grande selo", anunciou Cobain em 91
(Foto: Divulgação)
O livro "Nirvana" consiste em grande parte de trechos longos, aparentemente não editados, de entrevistas com coadjuvantes da história da banda, e True mal se esforça para julgar pontos de vista conflitantes, para assim tentar relativizar a importância de diferentes acontecimentos ou até para definir se o Nirvana realmente merece o tratamento especial de uma biografia de 600 e poucas páginas. "Por que uma banda seria favorecida em detrimento de outra?", ele pergunta.

É outro mistério também por que True favorece algumas considerações factuais em detrimento de outras. "A primeira ocorrência de uma guitarra completamente despedaçada, como todos concordam, ocorreu no Evergreen State College em 30 de outubro", em seu julgamento inexpressivo de historiador. Outros assuntos, obviamente mais importantes, não o interessam. Ele reproduz, aparentemente na íntegra, longos artigos que escrevera para a revista britânica “Melody Maker”, mas não vai além de citar o bilhete suicida de Cobain.

E então fica a dúvida, desconfortavelmente difícil de ignorar: se Cobain de fato escreveu um bilhete suicida ou um esboço de uma carta de despedida para os fãs (o Nirvana estava prestes a anunciar sua ruptura) posteriormente adulterado por outro punho.

O livro "Love & Death" (2005) de Max Wallace e Ian Halperin é uma acareação inquietadora de provas circunstanciais que sugerem que Cobain foi assassinado, e True poderia pelo menos ter considerado as dúvidas que ainda pairam acerca do mais famoso suicídio do rock 'n' roll.

 Lado bom
O único importante mérito do livro de True está em sua cuidadosa atenção à política musical, sobretudo ao relacionamento ambivalente de Cobain com o caráter rigorosamente anticomercial, do tipo faça você mesmo, que ele descobriu entre os músicos de Olympia, Washington, onde morou por muitos anos.

"Olá, somos fenômenos de vendagem de rock de um grande selo", anunciou Cobain para uma multidão no início de 1991, pouco depois de a banda assinar contrato com a David Geffen Company; e o Nirvana jamais conseguiu decidir se o seu sucesso contava como vitória ou apaziguamento.

O que True mais valoriza no Nirvana parece ser a sua política sexual feminista e tolerante, rara em uma banda que tanto deveu ao heavy metal. Cobain e Novoselic se beijaram no programa "Saturday Night Live" (cena cortada pela “NBC” das retransmissões do programa), e Cobain nunca demonstrou timidez em entrevistas para expressar sua admiração pelas mulheres. Isso introduziu algo de novo ao mundo dos ruidosos riffs de Black Sabbath, quando ele usou um vestido de baile para o programa "Headbangers Ball" da “MTV” – afinal de contas, ele explicou sem hesitar, era um baile.

Mas mesmo assim a força da música do Nirvana pouco teve a ver com promessa de, nas palavras de True, um rock 'n' roll "com nuances mais femininas, e menos machistas". Como um político erótico (na memorável definição de estrela do rock de Jim Morrison), Kurt Cobain acreditava no bom relacionamento entre homens e mulheres. Como compositor, preocupava-se mais com a dificuldade de manter um bom relacionamento consigo mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário